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segunda-feira, 2 de abril de 2012

São Camilo: um marco na história do Amapá (Parte1)

Texto de PEDRO DE PAULA RODRIGUES  
publicado no jornal DIÁRIO DO AMAPÁ, de 21/06/2005.
Fachada do Hospital São Camilo: obra filantrópica do italiano 
que se apaixonou por Macapá e sua gente. (Foto: Samuel Silva/2005)
 São Camilo: um marco na história do Amapá
Legado de Marcello Cândia

Concebido e construído pelo Dr. Marcello Cândia - um leigo italiano com profundas ligações com a Igreja Católica, o hospital teve sua construção iniciada no dia 26/01/1960, com a colocação da primeira pedra da obra, em terreno comprado de terceiros por Marcello Cândia, localizado na antiga Rua Rio de Janeiro (atualmente Rua Dr. Marcelo Cândia), entre as avenidas FAB e Almirante Barroso, no bairro Santa Rita, até então um local ermo, inóspito e tomado por mato e lixo, cujas ruas ainda eram tímidas e mal traçadas e sem qualquer camada asfáltica.
O arquiteto do Hospital São Camilo foi Fúlvio Giuliano, um jovem voluntário da Igreja católica apadrinhado por Marcelo Cândia, que jamais recebeu qualquer tipo de pagamento durante a construção do São Camilo: chefiou a equipe de operários durante toda a obra, consumindo os inseparáveis charutos e pagando do próprio bolso doses de bebidas aos pedreiros em dia de sábado, conforme depoimentos de pessoas que acompanharam a construção do hospital, como o Padre José Busato, que revela: "Quando decidiu ser Padre, o Dr. Cândia financiou todos os estudos de Fúlvio Giuliano, em Belo Horizonte, e, uma vez ordenado, transformou o Dr. Cândia em seu padrinho de Missa."
Na época, Macapá ainda não produzia materiais de construção, fato que encarecia  e até mesmo inviabilizava as obras realizadas no ex-Território, tanto que até então apenas dois prédios de médio porte haviam sido construídos na capital: o Colégio Amapaense e o Pensionato, localizados, respectivamente, na Av. Iracema Carvão Nunes (em frente à Praça da Bandeira) e na Av. Mendonça Furtado (nos fiundos da antiga Igreja da Matriz, posteriormente Igreja São José). Durante a construção do Hospital São Camilo, cinco anos depois da explosão de sua fábrica, em Milão (Fábrica Italiana de Ácido Carbônico), depois de sua participação na II Guerra Mundial, mais exatamente no período de 1941 a 1943, e após fundar a Escola de Medicina para missionários, na Itália, (em 1950), Marcello Cândia foi deixando de lado a vida de industrial e se dedicando aos pobres, principalmente do Amapá e do Pará, concentrando suas obras sociais em marituba, com a construção da Colônia de Marituba - que passou a cuidar dos hansenianos, e na construção do Hospital São Camilo, tanto que na Itália passou a ser apelidado de "Doutor Macapá".
   
  Imagens retiradas do livro "MARCELLO dei lebbrosi" de Piero Gheddo.

"Você não pode compartilhar o Pão do Céu, se você não compartilhar o pão da terra".  
Escrito na parede de sua casa (Fonte: centrocandia.it)

"Eu não sou nada. Eu sou apenas um humilde instrumento da Providência
Frase de Cândia (Fonte: culturacattolica.it)

Um pouco da história do hospital

A construção do hospital São Camilo teve a duração quase de dez anos. Nesse período, Marcello Cândia se revezava entre Macapá, Marituba e Milão, cidade italiana onde passou grande parte da vida, depois do seu nascimento em Pórtici, então um vilarejo de Nápoles, terceiro filho de um rico casal de industriais, Camilo Cândia e Luísa Mussato.
O "Doutor Macapá" fixou-se definitivamente na então capital do ex-Território em junho de 1965, logo depois que foi homenageado, no Vaticano, com o título de "Missionário".
A inauguração do Hospital São Camilo - então o maior e mais bem equipado hospital privado do norte do País - foi bastante concorrida, com a presença do governador, General Ivanhoé Gonçalves Martins, acompanhado de todo o seu Secretariado (incluindo o prefeito João de Oliveira Cortes, que na época era nomeado pelo governador), do deputado federal Janary Gentil Nunes, do Juiz de Direito da então Vara Única do Território do Amapá, Dr. José Clemenceau Pedrosa Maia, e até mesmo do então presidente do Amapá Clube - que era uma espécie de coqueluche da época.
Também compareceram, à inauguração do Hospital Escola São Camilo e São Luiz, o bispo prelado de Macapá, Dom Aristides Piróvano, amigo pessoal do Dr. Marcelo Cândia desde o ano de 1952. Dom aristides morreu na Itália, em 03/02/1997.
Fim da "Era Cândia" - Em 08/07/1980, o Papa João Paulo II visita a Colônia de marituba, faz um pronunciamento histórico aos hansenianos do mundo e beija na testa o Dr. Marcelo Cândia, em agradecimento ao que chamou de "exemplares e pioneiros serviços religiosos, sociais e de caridade prestados à população da Amazônia", sendo agraciado, em 1982, com o "Prêmio Feltrinelli" e, no ano seguinte, no dia 12/02, foi-lhe outorgado em cerimônia presidida pelo próprio prefeito, no teatro "La Scala" com a Medalha de Honra ao Mérito da cidade de Milão, mesmo ano em que escreveu, em co-autoria com o Padre Mário Gerlim, o livro "Onde estão os nossos irmãos hansenianos?". O livro tinha o objetivo confessado de sensibilizar os brasileiros no sentido de fortalecerem a causa em defesa dos hansenianos.
Depois de tantas homenagens e do lançamento do livro - considerado como uma espécie de despedida - o "Doutor Macapá" morreu no dia 31/08/1983, após permanecer internado durante um mês numa Clínica de Pavia, na Itália, onde recusou tomar qualquer tipo de medicamento ao tomar conecimento que era doente terminal (câncer no fígado), aos 67 anos de idade.
No leito de morte chegou ao Dr. marcelo Cândia a notícia da aprovação oficial da "Fundação Dr. Marcello Cândia", que até os dias atuais ajuda milhares de famílias pobres em todo o mundo, inclusive em Macapá. Logo depois da morte, quando seu corpo recebia a visita de milhares de amigos, na cidade de Milão, chegou do vaticano a nomeação oficial da escolha do "Doutor macapá" como "Conselheiro Pontifício para o Sínodo dos Bispos", indicação do próprio Papa João Paulo II. Conforme muito bem descreve o Padre José Busato, em sua obra "Dr Marcello Cândia - um santo entre nós", editado pela Fundação Padre PIO, 2003, página 13: "Esta comunicação deve tê-la recebido de São pedro...".
O construtor e fundador do Hospital São Camilo e São Luiz foi declarado pelo Papa João Paulo II, "Servo de Deus" e "Empresário dos Pobres", porque deixou de ser rico para aliviar o sofrimento da fome em todo o mundo, abraçando a causa de Madre Teresa de Calcutá, de quem era amigo pessoal.
Canonização - Dois anos  depois de sua morte, em dezembro de 1985, a Editora "De Agostini", da Itália, publicou a biografia de Marcello Cândia, escrita pelo jornalista missionário Padre Piero Gheddo, que, a pedido da família e da Fundação Dr. Marcello Cândia, foram publicados 45 mil exemplares em cinco edições. A biografia, retratada pela obra, teve repercussão pelo mundo e foram feitos pedidos de canonização.
O ápice do pedido de canonização ocorreu pós celebração da missa do 4º aniversário de morte (31/08/1987), quando amigos de Cândia pediram que alguém se interessasse pela Beatificação, levando a Fundação Dr. Marcello Cândia (em 11/11/1987) a pedir oficialmente a abertura do Processo. O Vaticano iniciou o processo de beatificação em 12/01/1991.

Fonte: Exceto as frases e ilustração GIF, o texto foi publicado
 no Jornal DIÁRIO DO AMAPÁ, de 21/06/2005.

Acredito que toda pessoa do bem deve ser uma inspiração, pois o homem nasceu para fazer isso... é nato se Deus está verdadeiramente entronizado em nosso coração. Só não sou favorável a ver o bem nas pessoas como uma coisa para canonizar, isso é coisa dos homens. O bem deve ser nato e vivê-lo é uma qualidade que Deus quer inspirar em todos nós. Basta olhar e viver com ele.
 
  Material pesquisado na Biblioteca SESC-Centro
em Macapá.


A quem interessar, são fontes de consulta:
porta-retrato-ap.blogspot.com.br