As postagens desse blog são em caráter informal, de apego ao saber popular, com seu entusiasmo, exageros, ingenuidade, acertos e erros.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

O Chapéu do Boto e o Bicho Folharal (Antonio Juraci Siqueira)

Cordel, lendas e Amazônia. Três temas que aprecio muito e estão reunidas nessa obra em uma abordagem divertida e facilitadora de leitura rápida. O autor, Antonio Juraci Siqueira, é paraense, marajoara de Cajary (Afuá), Licenciado em Filosofia pela UFPA e tem mais de 80 publicações (entre cordel, contos, poesia, crônicas e literatura infantil). Muitas de suas obras são premiadas em âmbito local e nacional, citando-se: o Concurso de Poesia Popular da UBT-Maranguape/CE (2009) e o  Mais Cultura em Literatura de Cordel (2010) - Edição “Patativa do Assaré” (premiações relacionadas ao texto "O chapéu do boto").
Essa edição foi publicada pela Paka-Tatu (2012), com ilustrações em  xilogravura de Ararê Marrocos e apresentação de  Roberto de Carvalho. Vamos encontrar duas  histórias nos característicos tons jocosos e melodramáticos da Literatura de Cordel.  

"O chapeu do boto" já diz a que veio no título, brincando com a sedução dos contos do Uiara. Essas narrativas costumam destacar a boêmia, encanto e artimanhas, Amazônia adentro, evidenciando um certo humor. Vemos isso, mas a história é conduzida em forma de drama, onde o boto tem que lidar com uma revolta por suas peripécias. Algo novo nesse misticismo é a introdução de elementos relacionados a indumentária do famigerado, que remete-se a outros seres dos rios. Isso nunca tinha visto. Esse é o contexto geral e a obra é uma valorização desses causos aos apreciadores. 

"O Bicho Folharal" é mais divertido e mostra uma história na floresta com um embate entre o macaco e a onça. Um paralelo entre esperteza e brabeza afoita.

 
 Xilogravuras de Ararê Marrocos
Informações do livro: 
Título: O Chapéu do Boto e o Bicho Folharal
Autor: Antonio Juraci Siqueira
Ilustrador: Ararê Marrocos
Editora:Paka-Tatu
ISBN: 978-85-7803-104-6
Ano: 2012
Páginas: 40
Tema: Cordel / Folclore / Amazônia
Composição em setilhas no esquema em rimas xaxabba

Juraci Siqueira incluiu também informes interessantes sobre a história do cordel no Norte e, para buscas futuras, transcrevo algumas das obras relevantes desse contexto:
"História completa de Severa Romana" (anônimo): um dos cordéis pioneiros em Belém, em 1946;
"Os cabras de Quintino", "As proezas do fantástico Pé-de-pano" e "A história do gato Mocotó" (de Adalto Alcântara Monteiro): cordelista citado pelo autor como o mais destacado no Pará;
"Oxente Bichinho, mercúrio não!" e "Belo Monte, o Belo de Destruir" (de João de Castro):  caracterizados pelas causas sociais;
"Um amor de São João" e "Grávida" (de Heliana Barriga):  referenciada por Juraci Siqueira como a maior cordelista paraense.
Aproveito o embalo nortista e cito um cordel histórico no Amapá: "Incoerência Humana - Naufrágio do Novo Amapá", de Francisco Hermes Colares (2002). A abordagem é impactante e emotiva sobre o naufrágio no rio Cajari em 1981 (considerado o maior da Amazônia). É um livro raro e talvez disponibilize no blog.

Eita, suprimo! Para os amantes de cordel, em Macapá, taí uma obra paidégua da literatura nortista. E está disponível para leituras na Biblioteca Pública Elcy Lacerda (Sala da Literatura do Amapá e da Amazônia).