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quinta-feira, 12 de abril de 2018

Extrativismo e Capitalismo na Amazônia (Antônio Filocreão, 2002)

Na proposta de divulgar obras do acervo da Biblioteca Ambiental da SEMA-AP, vamos conhecer mais um dos valorosos livros.

O exercício intelectual do autor e seu empenho em observar, coletar e organizar os dados da pesquisa de campo, tiveram como finalidade produzir um conhecimento aprofundado e sistemático da organização do extrativismo da região do Jari, resultando nesta obra “Extrativismo e Capitalismo na Amazônia: a manutenção, o funcionamento e a reprodução da economia extrativista do sul do Amapá”.
A dissertação, escrita em 1992, expõe os principais mecanismos que garantiram a manutenção da atividade extrativista, em face de um modelo de desenvolvimento capitalista que privilegiava outras atividades concorrentes, e, até certo ponto, destrutivas das suas condições de reprodução. A pesquisa também mantém sua importância por ser o primeiro estudo de caráter científico a retratar minuciosamente a economia extrativista do Amapá. (Descrição na contracapa)

Título: Extrativismo e Capitalismo na Amazônia: a manutenção, o funcionamento e a reprodução da economia extrativista do sul do Amapá
Autor: Antônio Sérgio Monteiro Filocreão
Editora: SEMA-AP
Ano: 2002
Páginas: 170

Sumário
Capítulo 1 - Contextualização histórico-geográfica
Capítulo 2 - Os produtores e a produção extrativista do sul do Amapá
Capítulo 3 - Aspectos conclusivos e considerações sobre as perspectivas da economia extrativista

O livro originou-se em dissertação de mestrado apresentada em 1992 na Universidade Federal da Paraíba, com os resultados da pesquisa de Antônio Filocreão sobre a produção extrativista na região sul do Amapá. 
No contexto, o Estado do Amapá tinha sido recém-criado, buscava delineamento de desenvolvimento e a região abordada é caracterizada pela potencialidade de recursos naturais, historicamente baseada na economia extrativista e em choque com os interesses capitalistas, que buscavam formas mais lucrativas e desapegadas da proteção aos recursos florestais e povos da floresta. O início dos anos 90 marca também a discussão das questões ambientais, buscando-se uma abordagem sustentável de valorização dos fatores humanos e naturais (pontos ressaltados na ECO-92). Com estas premissas a obra se insere nesse contexto, como estudo científico entre os pioneiros da economia extrativista no sul do Amapá.

Sobre a importância, o autor ressalta que a produção de castanha, principal produto na região em estudo, correspondia a 80% da extração amapaense e 15% da nacional.

O livro está dividido em 3 partes:

- A primeira faz a contextualização histórica e geográfica, resgatando a ocupação e economia regional, com ênfase na extração nos seringais e castanhais. O cenário era atrativo para a ocupação, tendo, porém, gerenciamento agressor ao extrativista, tornando-o refém e submisso de modelo econômico favorável apenas ao dono e empreendedor (latifundiário), que tinha o controle na região. Vemos também o desenrolar de abandono de priorização extrativista na fase Ludwig, com possibilidade de grande impacto pela supressão florestal por espécie exóticas (em um planejamento de maior lucro) e com a previsão da construção de uma hidrelétrica visando principalmente os interesses do empreendedor. A RESEX do Cajari foi criada em 1990 e entrava em choque também sobre a posse da terra.



Figura 3 - Trabalhador extrativista deslocando-se à floresta para coleta da castanha
(Foto do início dos anos 90)

- A segunda parte mostrou-se a mais interessante na obra, pela caracterização do produtor extrativista no sul do Amapá. No perfil apresentado, trabalha em áreas chamadas de UPAES (Unidades de Produção Agro extrativista), tendo que lidar com roças e pequenas criações de animais para subsistência (produção familiar). A parte final desse capítulo mostrou a forma como as cooperativas e associações foram criadas nos anos 80 (COMAJA e AMAJA) em perspectiva de organização aos interesses do produtores. Pela discordância entre eles com o capitalismo na região do Jari ocorreram conflitos pelo uso da terra. O livro resgata algumas dessas histórias.

Figura 5 - Residências típicas de extrativistas na Comunidade do Marinho - Cajari. 
(Foto do início dos anos 90)

- A parte final enfatiza dificuldades e anseios para melhor aproveitamento de modelos econômicos sustentáveis. Caminhavam para a industrialização, desenvolvimento da biotecnologia, crescimento populacional, necessidade de firmar mercados concorrentes com o capitalismo predatório e que buscasse a valorização humana e ambiental.
Nas análise finais, após a valorização do extrativismo racional, a região protegeu mais terras para modelos de manejo sustentável com a criação da RDS Iratapuru em 1997.

Pontos presentes na obra, entre outros aspectos para estudos.

Disponível para consultas na 
Biblioteca Ambiental da SEMA em Macapá.